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Tiaguinho CDS

E-mail: tiago.bobmarley@hotmail.com

Lulu Santos

Ripado para dentro de um iTunes, um disco de Lulu Santos pode ser automaticamente classificado como rythym and blues, um gênero musical que, no Brasil, não encontra muitos representantes, digamos, assumidos – embora Tim Maia, Sandra de Sá, Cláudio Zoli e muitos outros (que aqui acabaram definidos como “soul”) tenham tido papéis fundamentais. Mas a música de Lulu pode perfeitamente ser definida como MPB, rock, funk, eletrônica (e só aí cabem dúzias de outros rótulos), folk, samba... o que acaba naquelas três letrinhas que não são nada e, por isso mesmo, acabam sendo tudo: pop.

O homem que já definiu sua banda como “uma espécie de sucursal das Nações Unidas” (três negros, um oriental, um português e o próprio, autodefinido mulato) faz em sua música a mistura que todo brasileiro traz no sangue.

Nascido em 1953, nos anos 1960 conheceu os Beatles, que o levaram a pegar uma guitarra e formar sua própria banda, Cave Man – mais tarde ele “brigaria” com os rapazes de Liverpool, apelidando-os Beat-less, “os sem ritmo”, e depois faria as pazes, claro. Aproveitando a febre de liberdade da era hippie, correu o Brasil com sua turma, até, de volta ao Rio, formar o Veludo Elétrico, com o baixista Fernando Gama – que depois ganharia fama ao integrar bandas como os Mutantes e o Boca Livre --, que o acompanharia no Vímana, a misteriosa banda que reuniu Lulu, Ritchie e Lobão, além de Gama. Fascinado pelo rock progressivo de grupos como o Yes, desenvolvia sua habilidade com a guitarra, que o acompanha por toda a carreira.

Um breve intervalo como jornalista free-lancer e funcionário de gravadora depois, estabelece-se a parceria com Nelson Motta, já um experiente personagem da música brasileira, desde a bossa nova, e surge a primeira composição da dupla, “Areias escaldantes”. Em 1982 Luís Maurício já assume o apelido Lulu Santos e estreia em LP (tinha isso!) com “Tempos modernos”.

Aquele papo de ver a vida melhor no futuro, por cima de um muro de hipocrisia, rendeu: além de outros sucessos, como “De repente, Califórnia”, uma respeitável venda de 150 mil cópias, nada má para um estreante. Então, vamos nessa: a década de 80 veria Lulu lançar um disco por ano, estabelecendo-se como um dos artistas mais populares do Brasil, mas sem jamais deixar de ter o respeito da crítica e da classe.

Em 1983 veio “O ritmo do momento”, aquele da capa colorida, absolutamente new wave (a capa, não o disco, com Lulu e uma de suas amadas guitarras Fender Stratocaster), que enfileira os clássicos “Adivinha o quê” e “Um certo alguém”, logo de cara, sem esquecer “Como uma onda (Zen-surfismo)”. O Brasil canta acompanhado por Lulu, sua guitarra e sua banda, Os Românticos.

Já que a fase é boa, em 1984 vem “Tudo azul”: “Eu nunca fui o Rei do Baião/Não sei fazer chover no sertão/ Sou flagelado da paixão/ Retirante do amor/ Desempregado do coração” dizia a faixa-título, mais uma parceria de Lulu e Nelsinho. Sem medo de arriscar, ele, produzido por Liminha, se aproxima de ritmos brasileiros, investe em sopros e percussão. O repertório traz mais sucessos, como “Certas coisas”, “Tão bem” (esta de Lulu sozinho) e “O último romântico”.

Em janeiro de 1985, Lulu é um dos artistas brasileiros mais bem-sucedidos no Rock in Rio, apresentando-se na mesma noite que artistas estrangeiros como Nina Hagen, Rod Stewart e os grupos Queen e The B-52’s. O sucesso no festival eleva ainda mais sua popularidade. Ainda naquele ano, ele lança “Normal”, do sucesso “Sincero”, e não sai dos palcos. Mesmo discos que não emplacam megassucessos como “Como uma onda” ou “Certas coisas” mantêm suas boas vendagens. “Lulu”, de 1986, (“Casa” e “Condição”) seguram o astro nas rádios e em programas como o “Cassino do Chacrinha”, para atingir mais um pico de sucesso com “Toda forma de amor”, de 1988. “A cura”, com sua letra profética (“Existirá/ Em todo porto tremulará a velha bandeira da vida/ Acenderá/ Todo farol iluminará/ Uma ponta de esperança”), de autoria de Lulu, é a música mais tocada nas rádios brasileiras no ano.

O disco ao vivo “Amor à arte”, depois muito criticado pelo próprio Lulu, encerra a fase inicial e vitoriosa de sua carreira – que já tinha gerado até uma coletânea, “O último romântico”, em 1987. Antes que a década acabasse, sempre buscando novas direções, Lulu aparece com “Popsambalanço e outras levadas”, em que começa a estabelecer mais claramente um estilo próprio, um pop dançante levado pela guitarra, influenciado pela MPB, pelo samba... música de Lulu Santos, qualquer brasileiro sabe. O disco traz um experimentalismo talvez inédito na carreira de Lulu.